Fonte: seriec.com.br. E "tamo" de parabéns mesmo! |
Um título nacional, o acesso à Série B, o início da ampliação do CT, um time confiável, um clube em franca reestruturação. Acho que não poderíamos pedir mais nesse 2011. Mas em 2012 nos é permitido querer mais.
Queremos (pelo menos eu desejo) a conclusão do CT, o Título Catarinense (ou no mínimo a vaga para a Copa do Brasil 2013), e uma boa campanha na Série B. Pra mim, se conquistarmos isso, já estará bom - e convenhamos, não é pouco.
Portanto, JEC, muito obrigado pelo ano que tivemos, mas ano que vem estamos aí para torcer, incentivar, reclamar, apontar erros, mas acima de tudo, sermos cada vez mais tricolores.
Os apenas leitores, os comentaristas; os elogios, as críticas; enfim, a todos que por aqui estiveram (e foram perto de 95 mil acessos durante o ano) e que ajudaram a melhorar este espaço, novamente, um grande abraço. Valeu. Ano que vem, na Série B, deve ficar ainda mais legal. Passo ao assunto que pretendo tratar, sem pretensões de achar uma resposta.
O FUTEBOL E A FILOSOFIA:
No domingo passado, pela manhã, assisti à derrota do Santos para o Barcelona, por 4 a 0. Nunca vi o futebol brasileiro tomar uma lavada tão grande, em qualquer tempo. É claro que já vimos jogos vergonhosos (Flamengo 0 x 3 América do México, no Maracanã, por exemplo), mas nunca um jogo em que além da derrota fragorosa, se presenciasse uma dominação tão flagrante de um time brasileiro por um time estrangeiro. Foi constrangedor, ainda a se considerar que nos dois últimos anos o Santos tem sido o melhor time do Brasil (ergueu a Copa do Brasil, o Paulistão, a Libertadores, sempre jogando bem e vencendo).
A minha dúvida é: o que leva a uma derrota tão marcante? Reconheço que para haver um time como o do Barcelona é preciso uma conjunção de fatores que, reconheça-se, não ocorre a todo dia, e nem por acaso, mas não é só mérito deles, senão também nossa culpa, nossa máxima culpa.
Uma tese que tenho - e me desculpem, não lembro se já a expus aqui - é que para ser um jogador fora de série, é necessário um somatório de qualidades impressionante. O jogador tem de ser craque (habilidade e técnica), mas tem de ter um fôlego privilegiado (vigor atlético e físico), e mais do que tudo, inteligente (visão tática, estratégica, espacial). Um time ser espetacular, a conjunção astral é ainda mais rara.
Dou exemplos de jogadores. Robinho é habilidoso, tem técnica, mas uma força e velocidade apenas razoáveis, e uma visão estratégica estreita (suas opções de carreira, por exemplo, mostram que não soube pensar o todo, e poderia ter sido muito mais do que foi).
Ramires, habilidade e técnica poucas, fôlego impressionante, visão estratégica boa: sabe de seus pontos fortes e fracos, e investe nas suas qualidades.
Cito ainda o nosso ex-lateral Super Zé (os exemplos seriam muitos, mas paro por aqui). Corria bem, habilidade pouca, inteligência quase nada. De uma semifinal de Copa do Mundo a fazer 300 votos pra vereador em Joinville foi um passo (para o abismo).
Então, pro nego ser um Messi, não basta jogar pra cacete (como joga), mas ainda ter uma velocidade e força descomunal para ser uma "la pulga" invencível - vejam como dificilmente cai ou se joga, e uma inteligência para jogar bola descomunal. Começou como um dez clássico, e hoje é um misto de meia, "ponta-de-lança" - o antigo 10, tipo Zico, Pelé, Maradona; centroavante, sabe jogar pelos lados, dá milhares de passes para gols, e faz muitos gols.
Agora, imaginem um time conseguir juntar vários jogadores com essas qualidades, quase todos com esses atributos (técnica, físico, estratégia) em níveis bastante elevados. Messi, Xavi, Iniesta, Piqué, Puyol, Daniel Alves, Fábregas, Villa (num primeiro nível), Busquets, Valdés, Abidal, Pedro, Thiago, entre outros, e além disso, ter (o Clube) uma ideia consistente de um modo de jogar futebol pregada a todos estes e por longo tempo.
Convenhamos, não é nada fácil para um dos times mais ricos do mundo, imaginem para nós, pobres mortais de Joinville. O fato é que precisamos (não só o JEC, mas o futebol brasileiro), pensar o que queremos, o que entendemos sobre esse jogo de 22 homens correndo atrás de uma bola - na verdade, se for o Barça, serão 11 homens com a bola e 11 homens correndo atrás dela.
Queremos um futebol defensivo, de volantes que só correm mas não acertam um passe de 5 metros, um jogo só de contra-ataques, em que o passe (correto) é momento raro (o Barcelona troca entre 700 e 800 passes, em média, durante o jogo; os times do brasileirão não chegam a 300), e chutões para a frente e bolas paradas são a única emoção que esperamos de um jogo de futebol?
O Barcelona construiu uma divisão de base incrível (ainda que tenha deixado jogadores da base saírem para buscá-los, quatro ou cinco anos depois, a um custo muito alto. Exemplos: Piqué e Fábregas. Nem tudo é perfeito).
A Ponte Preta, outro dia, anunciou que vai extinguir a sua divisão sub-21, porque ou o jogador está pronto aos 20 para ser profissional, ou, segundo "A Macaca", nunca vai virar borboleta.
O Márcio Vogelsanger já cogitou de extinguir o sub-17 no JEC, por motivo diverso. Explicou: um jogador menor de idade não pode ter contrato, e nosso mandatário disse que apostar nesses jogadores sobre os quais o Joinville dificilmente terá algum direito (ainda mais se mostrarem algum talento) pode parecer um grande desperdício de dinheiro).
E o que se ensina nas divisões de base senão a reprodução desse modo meio tosco de se jogar bola?
Tudo posto, sou como o filósofo: só sei que nada sei. Tanto falei que acabei por misturar estações, falando da falta de um projeto, de uma visão a longo prazo, de um "o que fazer", de uma desorientação das divisões de base, de um futebol a que por comodismo aceitamos (os chutões, as milhares de faltas, o passe como objeto de luxo), que fica difícil concluir alguma coisa, exceto que alguma coisa está muito errada. Esse baile de um time espanhol sobre o time de Pelé, e hoje de Neymar, me assustou. Só sei disso.
Não quero que o JEC seja o Barcelona (na verdade, adoraria), e não almejo um patamar tão alto, mas se pensarmos alguma coisa, planejarmos alguma coisa, podemos, nesse deserto de idéias que é o futebol brasileiro, apresentar algo diferente e, para nossa felicidade, nos sobressair no planejamento e, via de conseqüência, nos resultados do futebol.
Pra 2011 já deu. Volto no dia 02 de janeiro de 2012, com a reapresentação do elenco. Feliz ano novo a todos. Em 2012: AVANTE, JEC! - e que o mundo não se acabe - os Maias que se fodam!, que eu ainda quero ver o Tricolor na Série A.